O encontro marca a organização e debate da travestilidade e transexualidade no Movimento Sem Terra junto ao debate da Reforma Agrária Popular
Por Cadu Souza para a Página do MST
O MST completou 40 anos e nesses anos de luta tem enfrentado sábia e fortemente alguns temas, entre eles o debate da diversidade sexual e identidade de gênero dentro de um movimento campesino, que tem em sua origem a luta pela terra. A diversidade do MST se reúne e, durante os dias 06 a 10 de maio realizam em Fortaleza-CE, realiza o 1º Encontro Nacional de Travestis e Transexuais Sem Terra.
O encontro tem o objetivo a formação e estudo sobre a diversidade sexual e identidade de gênero no MST e busca apontar os desafios e a superação da intolerância, do preconceito e das violências. O momento pretende pautar o debate da travestilidade e transexualidade para o conjunto do MST, com planejamento de ações a partir da temática para a campanha contra a LGBTfobia no campo.
A atividade reúne militantes Sem Terra, travestis e transexuais, das cinco regiões do país, para debater temas como a saúde no campo, a produção de alimentos saudáveis, a construção do VII Congresso Nacional do MST e os desafios e as perspectivas da luta popular.
Flavinha Tereza, da direção nacional do coletivo LGBTI+ Sem Terra, lembra que os sujeitos LGBTs sempre estiveram presentes na luta e explica um pouco desse processo de organização do encontro.
“Sabemos que os sujeitos LGBTI+ sempre existiram na luta, desde o corte do arame; só que não tínhamos o nosso local de discussão e debate, de entender a nossa participação na luta, de compreender qual seria nosso recorte enquanto sujeito LGBT campesino, seja na produção, no diálogo com a juventude, e com a infância, aponta.
“Hoje, ter os sujeitos LGBT+ dentro das instâncias do MST podendo pautar suas bandeiras além da bandeira principal, que é a Reforma Agrária Popular, é fundamental. É significativo dialogar com a organização numa luta contra as violências, sejam elas de gênero, da infância, da juventude, e temos tido um bom espaço de estudo e de debate na nossa organização, mas sentimos uma necessidade de mais avanços quando reunimos o coletivo LGBTI+”
A perspectiva é de que o debate que será feito durante esses dias possa se multiplicar no conjunto do MST, nas regiões, nos setores, nos coletivos dos acampamentos e assentamentos de todo Brasil.
“Surgiu dentro do coletivo a necessidade de fazer um encontro com essa particularidade, para que a gente pudesse adentrar no tema da travestilidade e transexualidade, na prevenção e cuidado dos homens e mulheres trans e tantas outras questões de saúde, de direitos, de conceber a luta pela terra a partir do nosso corpo, da nossa identidade, da nossa participação. Então o encontro traz muitos desafios para os dias de estudo, mas também para os dias que virão, para todos os espaços, como nossos acampamentos e assentamentos”, finaliza Tereza.
A programação terá debates sobre política públicas para a população trans e travesti no campo; Direitos Humanos e Saúde da população LGBTQIA+; Direitos conquistados e possibilidades de acesso à saúde da população trans e travesti; Organização da luta de travestis e transexuais no Brasil; MST e a diversidade sexual e identidade de gênero, entre outras.
Para Thaisson Campos, homem trans, negro, acampado no norte do Paraná, o encontro é um marco na história do MST e potencializa a organização e emancipação das pessoas travestis e transexuais Sem Terra.
“Estamos muito felizes com esse novo início de ciclo com nosso 1º Encontro Nacional das pessoas Travestis e Transexuais do MST. Trabalhamos muito para que esse encontro acontecesse, mobilizando a participação de várias pessoas de todos os estados. Fica um marco na história esse novo encontro, na busca da emancipação das pessoas. Temos pessoas travestis, transexuais, não-binárias e a gente busca que a luta aumente, somando novas pessoas, e que estas pessoas consigam fluir melhor nossa luta, diante do cenário que estamos dos 40 anos do MST”, encerra Campos.
“Estar no 1º Encontro de Travestis e Transexuais Sem Terra no marco dos 40 anos do Movimento é a síntese dos 40 anos de caminhada desse sujeito coletivo que é o MST. Sujeito coletivo porque ele é a síntese do povo brasileiro na sua diversidade, nós somos mulheres, homens, crianças, jovens e sujeitos LGBTI+ que compõem as fileiras desse Movimento ao longo desses 40 anos. E nesse marco, reunir no estado do Ceará toda companheirada travesti e transexual representando a brasilidade desse Movimento é muito bonito, porque para nós é a síntese da diversidade. O povo que produz alimento saudável é um povo diverso”, completou Dê Silva, mulher trans, militante do MST no estado do Mato Grosso.
*Editado por Fernanda Alcântara
Foto de capa: Cadu Souza