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Majur celebra origens e motiva pessoas a serem elas mesmas em 1º álbum

Foi preciso um mergulho em si mesma e uma transformação espiritual para que Majur, 25, concebesse seu primeiro álbum musical, “Ojunifé”, que chega às plataformas digitais nesta quarta-feira (12). “Passei por um renascimento, e Ojunifé sou eu agora”, conta a cantora soteropolitana à reportagem.

“É o nome que eu descobri ter no candomblé, escolhido por meu orixá, Xangô. Na tradução do ioruba ele significa ‘olhos do amor’, e é o que faço nesse disco: contar sobre o cotidiano, força, motivação e amor. É preciso amar para ter coragem e acreditar para chegar a algum lugar”.

Foram precisos dois anos para amadurecer a ideia do álbum. Depois de singles esporádicos, Majur lançou em 2018 o EP “Colorir” e, em 2019, tornou-se ainda mais conhecida pelos seus vocais na participação da música “Amarelo” de Emicida, junto a Pabllo Vittar.

Foi só então que ela entrou em um processo de produção no Rio de Janeiro, com auxílio de seus padrinhos Caetano Veloso e Paula Lavigne, e a produção musical de João Gabriel e Dadi Carvalho (músico para quem Caetano criou “Leãozinho”). Neste sentido, o cenário pandêmico a ajudou por causa do isolamento e introspecção.

“Foi o tempo exato para a descoberta de quem eu era. Vim me questionando desde os quatro anos de idade, tentando encontrar nomenclaturas, um gênero em que eu conseguisse me encontrar”, conta Majur, que se define como não-binária e trans, por “viver em um corpo que não é meu”.

As dez faixas inéditas do álbum, que variam do dançante afropop até o R&B mais declaratório, são todas autobiográficas —inclusive, Majur assina a direção musical do disco, tendo criado todas as melodias e letras dele. “Eu não consigo escrever sobre algo que não vivi. E também não há como alguém contar a nossa história”, diz.

Na faixa “Ogunté”, Majur e Luedji Luna homenageiam suas origens em comum com ritmos e elementos de Salvador. Já na segunda parceria do álbum, “Rainha de Copas”, Majur canta sobre a força da mulher ao lado de Liniker, uma das principais referências na construção da imagem da cantora.

“Liniker foi minha coragem. Vi nela a possibilidade de ser eu mesma. Nos conhecemos em 2018 e cantamos em um palco de Salvador. Desde então, eu a tinha como uma pessoa muito importante na minha construção. E, claro, no meu primeiro disco eu com certeza teria que chamá-la.”

Ansiosa pela recepção dos fãs, a cantora deve acompanhar o feedback deles para iniciar a produção de videoclipes, embora já expresse o desejo de criar um para cada canção —em especial “De Novo”, música que ela diz ser a mais íntima da coletânea. “Estamos no país que mais mata pessoas trans no mundo. Então, dizer que você voltaria a viver, para ser quem é e lutar, é uma resistência muito forte.”

“As coisas só vão mudar quando as pessoas entenderem que elas são o combustível da mudança”, continua. “Sou uma mulher trans, negra e periférica ocupando esse lugar. Isso não aconteceria anos atrás; é uma revolução. Há muitas pessoas que precisam de uma motivação para serem elas mesmas e, se posso ser essa motivação, que eu seja”.

SÃO PAULO -SP

Foto de Capa: Guilherme Nabahn/ Divulgação

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