BLOG

ICMBio estabelece censura prévia para a produção acadêmica de servidores

MANAUS, AM (FOLHAPRESS)

Uma nova portaria do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) obriga a pesquisadores do órgão a submeter sua produção científica para aprovação de uma diretoria antes de ser publicada. A medida, publicada nesta semana, entra em vigor em 1º de abril.

Divulgada na última quarta-feira (10), a portaria 151 delega ao diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio) do ICMBIO “A competência para autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins”.
“As solicitações deverão ser dirigidas à Dibio para autorização prévia do diretor e devem ser acompanhadas de declaração de responsabilidade, conforme modelo constante no anexo da presente portaria”, afirma a medida.

Assim como outras diretorias do ICMBio sob a gestão do ministro Ricardo Salles (Ambiente), a Dibio é chefiada por um oficial da PM de São Paulo, o tenente-coronel da reserva Marcos Aurélio Venancio. Em seu currículo no site do órgão, consta que ele tem “formação jurídica e na área da gestão pública”, trabalhou como professor universitário e possui apenas uma especialização.

A portaria impactará dezenas de servidores que realizam pesquisas científicas em paralelo ao trabalho no ICMBio, incluindo os que cursam pós-graduação.

“É uma tentativa de controlar não só a produção acadêmica como também a opinião dos servidores”, afirma Denis Rivas, presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema). A entidade está estudando medidas contra a portaria.

“Nós estranhamos que a Embrapa, um órgão de pesquisa por excelência, não tenha um filtro de produção imposto aos servidores”, afirma Rivas. “Uma das missões do ICMBio é a produção científica.”

“Qualquer tipo de censura deve ser combatido, principalmente a censura acadêmica e científica. A produção científica deveria ser neutra. Se os funcionários do ICMBio estão produzindo coisas que estão revelando problemas e caminhos para soluções, o órgão deveria acatar isso. Ter esse tipo de censura é muito questionável”, diz a diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar.

“Outro ponto importante é que, se tiver de ter algum tipo de autorização, tem de ter alguém com capacidade técnica de avaliar se esse estudo está bem feito ou não. Se passou em uma revista científica, é porque foi avaliado pelos pares. Esse tipo de censura inibe a produção científica.”
Procurado, o ministro Salles não se pronunciou até conclusão deste texto.

Foto de capa: Lula Marques

A Folhapress é a agência de notícias do Grupo Folha e comercializa e distribui diariamente fotos, textos, colunas, ilustrações e infográficos a partir do conteúdo editorial do jornal Folha de S.Paulo, do jornal Agora e de parceiros em todos os Estados do país. O serviço da Folha Press foi contratado pela Casa 1 em março de 2021 para estimular o acesso à informação de qualidade, com responsabilidade ética e jornalística e é publicado junto de conteúdos produzidos pela equipe de comunicação e outra agências de notícia independentes, igualmente qualificadas.

Notícias Relacionadas

ONGs no Nordeste acolhem população LGBTQIA+ em situação de rua

“Miss Macunaíma” reúne cartas imaginárias de Mario de A...

Céu Cavalcanti é primeira travesti eleita presidente do Conselho Re...

Contarato propõe lei que garante registro de dupla maternidade ou p...

Camila Sosa Villada traz à Flip sua materialidade da vida travesti ...

Primeira travesti brasileira a aparecer em novela é homenageada pel...

Candidaturas LGBTQIA+ crescem e chegam a 170 em 2022

Jovens indígenas criam websérie sobre direitos 

Negros e pobres estão mais expostos a riscos ambientais em capitais...

Movimentos sociais fazem protesto em Biblioteca Mário de Andrade

Cartórios registram recorde de retificações de nome e gênero no Brasil

Lei Padre Julio Lancellotti, que proíbe intervenção para ‘esp...