Na noite do dia 19/1, quinta-feira, o tradicional Teatro São Luiz, em Lisboa, virou palco de uma manifestação contra o “transfake”, prática transfóbica de colocar pessoas cis para interpretar pessoas trans.
A atriz, performer e prostituta Keyla Brasil invadiu o palco durante a apresentação da peça “Tudo Sobre Minha Mãe”, baseada no premiado filme de Pedro Almodovar, e fez um discurso contra a escalação de um ator cis para interpretar Lola, uma das personagens transexuais da trama.
“Desce do palco! Tenha respeito por esse lugar. O que está acontecendo é um assassinato, um apagamento da nossa identidade enquanto travesti Se contrataram quatro mulheres, três homens, por que não contratam duas pessoas trans para fazer a personagem? Sabe por que eu trabalho como prostituta?… Porque nós não temos espaço para estar aqui nesse palco, nesse lugar sagrado… Eu faria de graça esse espetáculo”, discursou a atriz em um vídeo que circula nas redes sociais.
Após a repercussão do ato, o ator André Patrício foi substituído pela atriz transexual Maria João Vaz. A peça tem outra atriz travesti, Gaya de Medeiroz, que interpreta a prostituta Agrado.
Em seu perfil no Instagram, Keyla Brasil fez um relato sobre a violência que vem sofrendo desde o protesto e, por conta das mensagens de ódio e ameaças de morte, vai deixar Lisboa até se sentir segura na capital novamente.
O que é o transfake
O termo “transfake” teve destaque maior nos últimos anos nas discussões sobre direitos e visibilidade de pessoas trans a partir do “Manifesto Representatividade Trans Já”, iniciativa do Movimento Nacional de Artistas Trans (MONART). A prática acontece em diferentes espaços como cinema, teatro e em outras artes performativas.
A representação de personagens trans por artistas cis, invisibilisa e aumenta os estereótipos em torno das existências trans. Além disso, colocar pessoas cis “fantasiadas” de pessoas trans, ridiculariza a experiência trans, mesmo que seja de maneira não intencional, fazendo com que os expectadores vejam a vivência trans como “uma série de adereços amovíveis numa pessoa cis confusa”, segundo o manifesto que pode ser lido na integra aqui.
No Brasil o ator Luis Lobianco também foi alvo de um protesto similar por fazer um monólogo sobre a travesti Gisberta em 2018.
Atores e atrizes trans para conhecer e acompanhar nas redes sociais
Foto de capa: Redes sociais