Evidenciar que Erika Hilton foi a primeira convidada travesti e negra no centro do histórico “Roda Viva” é chover no molhado, celebrar Caê Vasconcelos (Ponte Jornalismo) como o primeiro jornalista trans na bancada de entrevistadores, ao lado da escritora e colunista da Bazaar , Helena Vieira, também trans, idem, porém não são fatos a serem tratados como menos importantes, pelo contrário.
Laerte foi centro do programa em 2012, mas a cartunista já tinha uma história profissional de muito sucesso antes de transicionar, é também uma mulher branca de classe média. Nada disso invalida o ineditismo, nada disso diminui a importância de Laerte, no entanto, revendo o programa original, as pautas eram ainda muito focadas nas questões identitárias de gênero, foi quase uma aula sobre marcadores sociais e de novo, não desimportante, é uma entrevista retrato de seu tempo.
Nove anos separam as duas entrevistas, e com toda sua potência, Erika Hilton ecoa os amadurecimentos da luta trans, escancara as intersecções e dá nome às necessidades. Com as boas perguntas de Caê e Helena, Erika explanou sobre mandatos coletivos, políticas públicas, saúde, representatividade de corpos trans nas artes e por aí vai. Celebrou ainda a negritude, trouxe a tona a ancestralidade negra e trans. Apresentou à uma parcela considerável da população conceitos até então desconhecidos.
Para muitos de nós que está na luta aquele discurso já foi ouvido muitas vezes, com sorte internalizado, porém somos ainda muito poucos, é preciso cada vez mais que Erikas, Caês, Helenas estejam nos veículos de massa, que dialoguem e explanem cada vez suas ideias e ideias. É preciso ocupar cada vez mais!
Cabe ainda ressaltar as excelentes participações de Thiago Amparo, professor de Direito da FGV-SP e colunista da Folha de S. Paulo; Angela Boldrini, repórter da Folha de S. Paulo e Vitória Régia da Silva, repórter da Gênero e Número. Todos, todas e todas muito queridas.
E se você perdeu, pode assistir a entrevista completa aqui: