Os últimos meses foram inquietantes. Com a censura mais que institucionalizada vimos amigos, amigas, conhecidos, conhecidas e trabalhadores e trabalhadoras da arte em geral tendo seus trabalhos perseguidos, demonizados e cancelados.
Diante disso, juntos e juntas pensamos então o que fazer a partir do nosso repertório e do trabalho da Casa 1. E entre uma centena de ideias, pensamentos, projetos e conversas estabelecemos contato com a Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, um namoro antigo que ainda não havia se concretizado por conta de tempo.
Veio então o “Festival Verão Sem Censura”, proposição da mesma Secretaria, que trouxe para a cidade de São Paulo uma programação extensa com obras censuradas por órgãos do governo federal e assim tivemos nossa proposta de atividade aceita para ser realizada em parceria com a prefeitura.
Assim nasceu o “Instituto Temporário de Pesquisa Sobre Censura”, que ocupou a Sala de Vidro – Ação Educativa do CCSP – Centro Cultural São Paulo, entre os dias 17 e 31 de janeiro de 2020, e consistiu em uma residência socioeducativa com a execução de um grande grupo de estudos coletivo, um ateliê gráfico e uma dezena de aulas abertas sobre a censura e suas diversas facetas.
No campo da produção, tivemos uma educadora, um educador, um coordenador e dois produtores que dialogavam e estimulavam o público através de dispositivos diversos para pensar e produzir material gráfico sobre censura: impressos, colagens, textos, conteúdos datilografados, impressão em camisetas, cartazes foram criados durante o período de residência. Montando assim uma espécie de “dossiê”coletivo com muitos apontamentos sobre o tema. “O fato de termos passado este tempo em residência possibilitou que nosso trabalho se desenvolvesse e se transformasse ao longo dos dias, trazendo novas ideias e descobertas sobre o tema da censura. Dessa forma, conseguimos estabelecer uma rede de convivência e criação com o público e a instituição. Algo mais ou menos parecido com a nossa forma de trabalhar na Casa 1,” aponta João Paes, integrante do grupo de trabalho do Instituto Temporário de Pesquisa Sobre Censura.
Foram 13 dias, 12 horas de atividades diárias, 12 aulas abertas, 300 pessoas participaram da do ateliê gráfico, 856 pessoas assistiram às aulas abertas, 350 peças produzidas sobre censura e 1 armadura contra censura feita por uma criança.
Já as aulas abertas que aconteciam diariamente trouxeram, Lívia Loureiro – “A arte dos pobres apavora os generais”, Gabriel Bogossian – “Censura, apagamento, resistência”, Gleuson Pinheiro – “Escola de Samba Príncipe Negro: silenciamento da presença negra na Vila Prudente”, Guilherme Terreri Pereira – “Quem tem medo de Cassandra Rios?”, Renan Quinalha – “A censura moral da ditadura à democracia”, Francis Vogner Dos Reis, Natalia Neris – “Dançando sob a mira do Estado: censura às manifestações culturais negras ontem e hoje”, Maria Castilho, Luciano Somenzari e Walter de Sousa Jr. – “Censura e Pós – Censura – atualidades”, Claudinei Roberto da Silva, Regina Galdino – “As Censuras e o Teatro”, Thiago Amparo – “Proibição à censura: o que diz a lei?”, e Renata Carvalho – “Quem tem medo de travesti?”.
As aulas completas estão em uma playlist no nosso Spotify