O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) adotou estratégia semelhante à usada por startups e grandes empresas de tecnologia para criar a plataforma Contrate Quem Luta. A iniciativa tenta criar um canal para que militantes recebam propostas de trabalho em seus celulares.
As contratações são auxiliadas por um robô chamado Leon. A ferramenta atende a partir de um número no WhatsApp. Conversando com ele, o contratante recebe uma lista dos serviços disponíveis e, após informar sua necessidade e endereço, tem sua solicitação enviada ao militante mais próximo cadastrado na plataforma.
É possível contratar serviços em áreas como limpeza, segurança, portaria, estética, reformas e motofrete. A negociação de preços e o pagamento acontecem diretamente entre contratante e prestador do serviço.
A plataforma foi desenvolvida por uma equipe de sete voluntários do núcleo de tecnologia do MTST, diz Felipe Bonel, um dos responsáveis pela criação do Contrate. O nome do robô é homenagem ao militante Leon Cunha, um dos idealizadores da ideia que morreu vítima de câncer neste ano, diz.
Gabriel simeone, também participante do núcleo de tecnologia do MTST, diz que a plataforma tem 190 prestadores de serviço cadastrados e atende a pedidos na Grande São Paulo.
Segundo ele, caso haja necessidade, é possível expandir rapidamente o número de trabalhadores com acesso aos pedidos, aproveitando o cadastro do movimento. A plataforma, porém, vem sendo ampliada gradualmente para garantir que o número de pedidos e a quantidade de prestadores esteja em equilíbrio.
Entre os diferenciais do Contrate Quem Luta em relação a outros aplicativos para busca de serviços, os criadores da plataforma destacam não haver cobrança de taxas dos trabalhadores nem descredenciamentos deles sem que haja uma conversa para justificar a decisão.
Outra diferença, diz Bonel, é que, por funcionar no WhatsApp, o Contrate Quem Luta não exige que o militante tenha memória disponível no celular para baixar um aplicativo nem consuma grande volume de seu plano de dados de internet.
Além disso, há assembleias mensais para que os trabalhadores recebam treinamento sobre como atender a partir da plataforma, bem como orientações para que se previnam contra a Covid-19 e discutam os termos de uso do serviço.
Algumas das decisões tomadas nesses debates foram que o Contrate deveria enviar questionário aos consumidores sobre a qualidade do atendimento e não deveria mandar solicitações de serviço durante a madrugada -os prestadores de serviço tem 90 minutos para responder se estão disponíveis. “O produto vai melhorar por ser gerido coletivamente”, diz Simeone.
Para quem contrata, segundo o desenvolvedor, a plataforma traz a oportunidade de conhecer melhor o MTST. “Muita gente chama para consertar uma pia e acaba aproveitando para conversar sobre o tema da moradia, das ocupações”, afirma.
Bonel diz que a equipe que criou o Contrate Quem Luta usa metodologias próprias do mercado de tecnologia, como a criação de MVPs (produtos mínimos viáveis, da sigla em inglês), que são versões de um serviço ainda com poucos recursos e que são constantemente atualizadas de acordo com a experiência adquirida junto aos clientes. A satisfação dos contratantes também é acompanhada, pois a imagem do movimento está em jogo, diz.
Entre os próximos passos em análise para expansão da iniciativa está a disponibilização de atendentes para auxiliar os usuários quando necessário. Também é discutida a ideia de lançar uma campanha de financiamento coletivo para bancar os custos do projeto, que não tem fins lucrativos.
“Queremos estar dentro de padrões de mercado, não oferecer a precariedade tecnológica que costumamos ver em movimentos de esquerda”, diz Bonel.
SÃO PAULO, SP