Por Tamara Cleveland, voluntária da Biblioteca Caio Fernando Abreu
Desde sua estreia no Festival de Veneza em 2024, o filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, vem acumulando prêmios e conquistando o público. Em clima de carnaval, o Brasil celebra as três indicações do longa ao Oscar, um dos mais prestigiados prêmios do cinema mundial. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme retrata uma parte marcante da história de sua família: o desaparecimento de seu pai, levado pela polícia militar em 1971, durante a Ditadura Militar (1964-1989), e a luta incansável de sua mãe, Eunice Paiva, por respostas, enquanto sustentava a família nos difíceis anos que se seguiram.
Nascido em São Paulo, em 1959, Marcelo Rubens Paiva passou a infância no Rio de Janeiro. Após a prisão, tortura e morte de seu pai, Rubens Paiva, ele e seus quatro irmãos mudaram-se para São Paulo com a mãe, em 1974. Durante a adolescência, Marcelo já demonstrava interesse pela literatura, escrevendo para o jornal da escola. No entanto, sua carreira literária só começou após um evento inesperado que mudou sua vida aos 20 anos.
Em 14 de dezembro de 1979, Marcelo sofreu um acidente ao pular em um lago, quebrando uma vértebra do pescoço, o que o deixou tetraplégico. Com o apoio de fisioterapia e terapia ocupacional, ele recuperou os movimentos das mãos e dos braços. A vontade de compartilhar sua história o levou a escrever sua obra mais conhecida, “Feliz Ano Velho”. Publicado em 1982, o livro marcou sua estreia na literatura, conquistou o Prêmio Jabuti em 1983 e tornou-se um best-seller, sendo o título mais vendido no Brasil na década de 1980.
O livro, que integra o acervo da Biblioteca Caio Fernando Abreu, é escrito de forma irreverente, repleto de ironia e humor — marcas registradas do estilo de Marcelo. Em suas páginas, ele aborda a prisão política de seu pai, seu próprio acidente, além de momentos de sua infância e adolescência, bem como seus interesses musicais, políticos e literários.
Uma das passagens mais marcantes de “Feliz Ano Velho” exemplifica a força de sua narrativa: “Quando você perde a mobilidade, é como se tirassem de você o direito de ir embora. Mas ficar é um ato de resistência.”
Cena do Filme Feliz Ano Velho, 1987.
Com o grande sucesso, o livro foi adaptado para o cinema em 1987, com direção de Roberto Gervitz e um elenco estrelado por Marcos Breda e Malu Mader. A adaptação trouxe para as telas a intensidade e a irreverência da obra original, explorando temas como juventude, liberdade e superação em meio às adversidades. O filme foi bem recebido pela crítica e contribuiu para consolidar o impacto cultural do livro, alcançando uma nova geração de espectadores e ampliando ainda mais o alcance da história.
Após escrever “Feliz Ano Velho”, Marcelo ingressou no curso de Rádio e TV da Universidade de São Paulo (USP) e concluiu o mestrado em Teoria da Literatura na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao longo de sua carreira, publicou dezenas de livros e peças de teatro, marcados por humor, engajamento político e críticas sociais.
Até o momento, o livro “Ainda Estou Aqui” não faz parte do acervo da Caio, mas outras histórias biográficas, além de títulos representativos LGBTQIAPN+, estão disponíveis para empréstimo na Biblioteca. Conheça o espaço e faça a sua carteirinha de segunda a sábado, das 10h às 19h, na Rua Condessa de São Joaquim, 277, no bairro Bela Vista.
Boa leitura e ótima sessão!