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Com elenco majoritariamente trans, grupo MEXA apresenta A Última Ceia na Casa do Povo

Espetáculo com direção e dramaturgia de João Turchi parte da Bíblia e do famoso quadro de Leonardo Da Vinci para atualizar, a partir das vivências do coletivo, as ideias de morte e ressurreição

Um grupo de pessoas se senta em uma mesa para sua última refeição e alguém avisa que vai morrer. Esse é o ponto de partida do novo trabalho do MEXA, A Última Ceia, que faz sua temporada de estreia na Casa do Povo (Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo, SP) entre 17 de outubro e 3 de novembro de 2024, com sessões de quinta a sábado, às 20h e aos domingos, às 19h. Os ingressos custam R$20 (ingresso social).

Dirigida e escrita por João Turchi, a peça-jantar parte do famoso quadro homônimo de Leonardo Da Vinci e do acontecimento bíblico para se perguntar: como criar uma imagem final que persista, ainda que aquele grupo (de pessoas) não exista mais? “Esse pode ou não ser nosso último espetáculo. Nesses nove anos de trajetória, essa sempre foi uma questão e, desta vez, quisemos explorar essa ideia”, comenta o encenador.

Assim, A Última Ceia apresenta-se como uma despedida e brinca com a ideia de verdade e ficção. Ao longo da história, o coletivo explora as suas vivências pessoais, bem como as ideias de morte e ressurreição. E, ao mesmo tempo, reflete: quem conta as histórias de corpos que já não podem mais falar?

Sobre a encenação

O espetáculo é dividido em dois momentos. Na primeira parte, a estética e a encenação remetem a uma peça-palestra. As atrizes Aivan, Alê Tradução, Dourado, Patrícia Borges, Suzy Muniz e Tatiane Arcanjo exploram as suas relações com o quadro de Da Vinci e com os apóstolos.

“Todas elas são muito ligadas à religião e têm histórias bem significativas com a obra, até porque o MEXA foi fundado em uma casa de acolhida que tinha esse quadro na parede. Então, elas vão compartilhando as suas narrativas, e, enquanto isso, o grupo vai acabando. Acontecem brigas, as artistas saem de cena e, em um determinado ponto, o cenário é desmontado”, afirma Turchi.

A peça foi pensada para ter muitas surpresas. Por isso, o texto se costura por fatos inusitados. “A Patrícia, por exemplo, conta que o único quadro que ela teve na vida foi uma reprodução de ‘A última ceia’, de Da Vinci. Era de uma vizinha e ela fez de tudo para consegui-lo: trocou vestido, mega hair, perfume e várias outras coisas pela obra, que, inclusive, resistiu a várias tragédias”, completa.

De acordo com Turchi, o grupo costuma incorporar nos seus trabalhos algumas situações emblemáticas que ocorrem durante os ensaios. No caso de A Última Ceia, após todos terem lido a Bíblia juntos, as artistas escreveram em um papel quem gostariam de interpretar e a resposta foi unânime: Judas. Por esse motivo, foi incorporada no espetáculo uma cena em que elas disputam para ser esse personagem – e é a plateia quem escolhe a vencedora.

Os diversos relatos apresentados fazem as costuras entre as duas partes do espetáculo. Por exemplo, Suzy, que nasceu no Maranhão, diz que em sua cidade há uma tradição de, nos velórios, as pessoas comerem o prato favorito do morto, como uma grande homenagem. E é esse o prato servido durante o jantar da segunda metade da peça.

Depois da grande discussão, as atrizes rearranjam o cenário: o que eram apenas praticáveis formando um pedestal gigantesco de 6x10m se transforma em uma mesa e o MEXA serve um jantar real para o público. “É como se o grupo tentasse concretizar todas as promessas feitas durante a primeira metade da peça”, acrescenta.

O público acompanha a ação tal como ela é. O grupo optou por deixar a parte técnica a vista, então a vídeoperformer Laysa Elias e as artistas Podeserdesligado e Iara Izidoro, que fazem, respectivamente, o som e a luz da peça, estão sempre em cena.

E a trilha sonora reflete essa complexidade. Foram escolhidas canções de Mariah Carey, Elba Ramalho e Edwin Hawkins, além de calcinha preta, Bach e uma pitada de funk. “O quadro do Leonardo da Vinci se tornou a imagem mais significativa da última ceia de Cristo. Ela venceu essa narrativa. Então, se essa for a nossa última peça, queremos controlar qual é a imagem que vamos deixar para o mundo”, defende o diretor.

Sobre o MEXA

O MEXA é um grupo de performance que nasceu no contexto das Casas de Acolhida em 2015, na cidade de São Paulo. Suas pesquisas envolvem as fronteiras entre realidade, ficção, autobiografia e teatro documentário, borrando limites entre arte e vida.

Entre os principais trabalhos do coletivo, destacam-se “69 Salas H&V” (2016), desenvolvido por ocasião da bolsa de criação para coletivos, concedida pela Casa do Povo; “Terminal 10mg” (2017), financiado pelo programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em que realizou uma performance de 10 horas de duração em ônibus de linha da cidade de São Paulo e Putz Bahia (2018/2019), com gravação de CD e uma série de shows com participantes do coletivo. Realizou ainda as obras “Cancioneiro Terminal”, que estreou na mostra Verbo, de 2018 e circulou por diversos festivais, a ação “Conversa para boy dormir”, junto ao grupo GRUA, apresentada na Bienal de Dança de 2021, e “Quanto mais ensaia, pior fica”, apresentada no Festival Panorama 2021.

Sinopse

Um grupo de pessoas se senta em uma mesa para sua última refeição. Alguém avisa que vai morrer. O grupo não vai mais existir. É uma despedida. Poderia ser uma ficção, mas nem sempre é. Essa noite ninguém vai ser salvo. Na peça-jantar, a companhia parte da Bíblia para atualizar, a partir das suas vivências, a ideia de morte e ressurreição. Como continuar só, quando o coletivo não mais existe? Quem conta as histórias de corpos que já não podem mais falar?

SERVIÇO

A Última Ceia
De 17 de outubro a 3 de novembro
Quinta a sábado, às 20h e domingos, às 19h
Local: Casa do Povo – Rua Três Rios, 252, 1º andar, Bom Retiro, São Paulo, SP
Ingressos: R$20 (ingresso social)
Venda em https://www.sympla.com.br/a-ultima-ceia-do-grupo-mexa__2674579
Classificação: Livre | Duração: 100 minutos

Foto de capa: Anna Van Waeg/ Divulgação

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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