Em Pedagogias das travestilidades (Ed. Civilização Brasileira), a ativista trans Maria Clara Araújo dos Passos registra as estratégias usadas pelas travestis para desestabilizar regimes de opressão. Livro registra a trajetória de luta de seis travestis negras do Nordeste
Em um momento de escalada da violência contra travestis e pessoas transgênero – desde 2008, o Brasil lidera o terrível ranking de assassinatos de pessoas dessa comunidade –, a educadora e ativista Maria Clara Araújo dos Passos registra a luta do Movimento de Travestis e Mulheres Transexuais no Brasil, para assegurar que o Estado enxergue essa comunidade e lhe garanta os direitos sociais e políticos. Em Pedagogias das travestilidades (Ed. Civilização Brasileira), a autora documenta o saber que vem sendo produzido, desde 1979 até a atualidade, pelo coletivo Associação de Travestis e Liberados (Astral).
Jovanna Cardoso, Elza Lobão, Josy Silva, Beatriz Senegal, Monique du Bavieur e Claudia Pierre France, seis travestis negras do Nordeste do país, têm suas lutas retratadas e destrinchadas por Maria Clara desde seu início até sua chegada ao espaço privilegiado da academia. Ela esmiúça os “emaranhados” constitutivos e reconstrói os caminhos percorridos pelo movimento LGBTQIA+ no país ao longo dos anos.
A publicação deste livro no Brasil é importante para afirmar que a existência dessas pessoas não apenas é possível, mas essencial para que a cidadania seja exercida de forma plena. A edição reúne apresentação da multiartista Linn da Quebrada e prefácio da professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Carla Cristina Garcia.
SOBRE A AUTORA
Maria Clara Araújo dos Passos (PE, 1996) é bacharel em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestranda em Educação (Sociologia da Educação) pela Universidade de São Paulo (FE/USP). Especialista em Estudos Afro-Latino-Americanos e Caribenhos pela Clacso/Flacso, possui Certificado em Estudos Afro-Latino-Americanos pelo Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas do Hutchins Center, na Universidade de Harvard. Tem abordado temáticas como intersecções entre (identidade de) gênero e raça, currículos decoloniais, movimentos sociais progressistas na América Latina, transfeminismos e, mais recentemente, movimentos transnacionais de extrema direita e suas agendas educacionais antigênero. Maria Clara é, também, uma das mais influentes transfeministas.
“Em Pedagogias das travestilidades, a autora não apenas estabelece diálogos entre diferentes disciplinas como também constrói seu pensamento conjuntamente com teóricas do feminismo e pesquisadoras/es da história do Movimento de Travestis e Mulheres Transexuais. Essa chave de coalizões torna seu texto potente e apto a questionar os limites e a refletir sobre a educação transgressora que as pedagogias das travestilidades propõem. As múltiplas conexões entre esses dois elementos têm sido demonstradas por teóricas, de diferentes áreas do conhecimento, que procuram se posicionar para além da cis-heteronormatividade e da normalidade como elementos de estabilidade pedagógica.” _ trecho do prefácio de Carla Cristina Garcia
Foto de capa: reprodução/ instagram